Parei uns segundos... E no meio da loucura do dia a dia. Lembrei de uma frase que a minha
mãe me disse um dia: “quando a gente tenta abraçar o mundo, o abraço é fraco”. Era
uma metáfora que eu demorei uns anos para entender. Ela queria dizer que quando
você quer abraçar coisas demais, você não consegue ser bom o suficiente em
todas elas, ou seja, o abraço sai fraco, por que seus braços não alcançam tudo
que você quer abraçar e algumas coisas "escapam". Quando você faz coisas demais, algumas vão ficar
"mais ou menos”.
Minha
mãe, hoje aposentada, era uma excelente professora, dessas dedicada, que
montava suas aulas com muito carinho, preparava atividades didáticas para os
seus aluninhos e às vezes gastava umas horas do seu dia preparando painéis para
alfabetizar as crianças. Tenho certeza que muitas crianças aprenderam a ler e
escrever com a minha mãe, por que ela fazia aquilo com amor e dedicação. E ela
fez isso por muitos anos, 40h por semana, até chegar a hora de parar.
E
é claro que entre tudo isso, como toda mãe, ela também fazia as tarefas
domésticas, cozinhava, cuidava da gente, pagava as contas da casa, e entre tantas coisas: descansava!
Quando
a gente tenta abraçar o mundo, o abraço é fraco! Deve ser por isso que hoje existem
as especializações, mestrados e doutorados. Para que a gente possa se tornar
bom em alguma área e fazer aquilo com dedicação. O que não significa que a
gente não possa aprender outras coisas, fazer outras atividades, adquirir outros
conhecimentos, ter mais de uma habilidade... mas se a gente tentar fazer mil coisas ao mesmo tempo, alguma
coisa vai ficar “meia boca” como diz o ditado popular.
É por isso que a gente trabalha com pessoas (RH) que são boas em outras áreas e
estão ali exatamente para preencher as lacunas daquilo que a gente não faz tão
bem. As pessoas e suas habilidades se complementam, se ajudam, se auxiliam. É por
isso que há uma divisão de tarefas em todo ambiente de trabalho. Um ambiente de
cooperação.
Mas
por trás daquela simples frase da minha mãe, tinha algo mais oculto: saiba
relaxar! Um tipo de alerta... que diz: “ok, faça com carinho o que sabe fazer, mas
também saiba viver a vida...”. Saiba frear o ritmo, desligar um pouco. Afinal, não somos máquinas. Somos gente! E gente
tem sentimento, emoção, um corpo físico que também precisa de descanso,
carinho, amor. Gente também precisa relaxar. Gente precisa viver, não só para adquirir coisas, mas também para ser alguém bom nesse mundo.
O
problema do mundo moderno é que as pessoas acham que não podem parar nunca... não
desligam... E vivendo em ritmos desenfreados, cada vez mais, aumentam os problemas
de saúde relacionados ao stress (não precisa ser “expert” para saber disso), basta ler um pouquinho e observar um pouco.
Vejo
essa gente toda buscando apenas “ter” e esquecendo que além de ter a vida é “ser”!
Aliás você pode TER tudo que quiser (e ter é bom demais), mas quando você morrer
não vai levar além do SER. As pessoas não vão lembrar do que você tinha... e
sim do que você significou na vida delas. Da pessoa que você foi além das
paredes de um escritório ou da rotina maluca que viveu. Da maneira como você
tratou quem estava ao seu redor. No fim meus amigos é só isso que importa!
Quem
quer fazer demais, acaba sempre deixando escapar alguma coisa por entre os
dedos. Alguma coisa vai dar errado! Entre tantas coisas que aprendi com a minha mãe, essa foi uma delas!
Vou terminar essa reflexão, deixando um trecho de uma
mensagem do Padre Fábio de Melo: “Aquele que muito quer corre o risco de nada ter, porque o
empenho e o cuidado é que fazem a realidade permanecer. O simples anda leve.
Carrega menos bagagem quando viaja, e por isso reserva suas energias para
apreciar a paisagem. O que viaja pesado corre o risco de gastar suas energias
no transporte das malas. Fica preso, não pode andar pelo aeroporto, fica
privado de atravessar a rua e se transforma num constante vigilante do que
trouxe. A simplicidade é uma forma de leveza. Nas relações humanas ela
faz a diferença. O que cultiva a simplicidade tem a facilidade de tornar leve o
ambiente em que vive. Não cria confusão por pouca coisa; não coloca sua atenção
no que é acidental, mas prende os olhos naquilo que verdadeiramente vale a pena”.
Então.... Que em meio a essa loucura toda que o mundo
se tornou, onde nos fizeram acreditar que a gente é máquina e não pode parar. Que
a gente saiba sim parar. E que acima de tudo a gente possa abraçar forte aquilo
que abraçar, principalmente as pessoas que nos querem bem.
FIM
Carol Brunel
22/09/2017
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