terça-feira, 29 de junho de 2021

CRÔNICA MATINAL



Acordei e de imediato senti o ar gelado entrar por entre as frestas da janela. Embora em apartamento o frio não chega aos pés de quando morávamos na casa que foi da vó. Lá as paredes de madeira e as frestas das janelas permitiam que o frio adentrasse todo o ambiente. Não à toa, tínhamos fogão a lenha na cozinha. Se eu fechar os olhos ainda posso sentir o cheiro da lenha queimando e daquelas comidas gostosas que eram feitas aos sábados.


Pelas previsões eu já sabia que seria um dia frio. Separei uma roupa quentinha e coloquei a água aquecer para passar um café. “Café é cringe” dizem eles. Para mim café quentinho é alimento. Aquece o corpo e alma. Café é combustível. Café é sorte!


Coloquei tocar uma suave canção, no estilo Indie, se chama “At Home” (ouçam se puderem). Essa música costuma me deixar nostálgica, resgatar minhas memórias... mas também tem um poder de ativar minha criatividade.


Eu e essa mania de sentir. Sentir tudo demasiadamente. Eu e meus muitos segredos, meus milhares de pensamentos e ideias. Qualquer fagulha de sentimento é uma explosão. Nada é pouco. Tudo é muito. Não sei, porém, em que momento me encontro nas tantas vezes em que me perco.


Água quentinha e café passado. Pão francês com manteiga. O aconchego do lar. There's no better place. Vontade de ficar. O frio esfria o corpo. Mas aquece minha alma. Desperta meus gostos e minhas vontades. Cozinhar. Escrever. Aprender algo novo. Comprar uma máquina de costurar.


Enquanto ando de um lado para o outro procurando um par de meias de lã, minha mente borbulha. Ah, aliás, hoje teremos calça Skinny sim! Como quase todos os dias.Meias de lã, luva, blusão, cachecol, toca. Acho que estou pronta para encarar o dia gelado. Sabe como é... preciso garantir mais uns boletos pagos... afinal Millennial eu sou.


“At Home” continua tocando repetidamente. Sinto que preciso de coragem. Coragem para ir onde eu quiser. Estar onde eu quiser. E ser... 

You make me feel at home”...

 

FIM

Carol Brunel