Abrindo uma exceção aqui no BLOG. Hoje vai um texto que não é meu...
Para ter relacionamento saudável com as pessoas é preciso discernimento. Discernimento no sentido de autopercepção. Isto é difícil para muitos porque a tendência é funcionarmos no automático. O que é funcionar no automático? É fazer as coisas no dia a dia sem muita percepção da própria conduta, do jeito de falar, dos motivos para agir, dos espaços que ocupa. Parece que isto é o normal, não é?
Será que é mais fácil funcionar no automático? Será que exige menos esforço mental? O contrário de agir no automático significa ter consciência de si, pensar no que você está pensando, no que está dizendo para as pessoas, pensar de que forma o seu comportamento afeta o comportamento nos outros. Dá trabalho isto? Muito!
Mas não é possível ter saúde mental sem discernimento ou percepção da própria conduta. Viver o tempo todo no automático é estar fechado para esta percepção. Será que as minhas ações e reações não me conduzem a consequências indesejáveis? E também, claro, viver o tempo todo na autopercepção pode prejudicar a espontaneidade e a soltura nos relacionamentos. Não é questão de entrar em paranóia.
Mas a reflexão ajuda muito a entender quem somos e como funcionamos socialmente. Mas quem quer refletir sobre seu próprio comportamento numa sociedade carregada de relacionamentos descartáveis, inundada de impulsividade, cheia de modelos doentios na mídia, e reagindo agressivamente com facilidade?
A aceleração prejudica a concentração. Tentar absorver informação demais. O mundo está acelerado e cheio de precocidades. Outro dia chegou às minhas mãos uma propaganda impressa de uma empresa de jóias com uma menina toda maquiada e cheia de jóias. Uma imensa artificialidade, uma tristeza, um adulteração da beleza natural de uma criança!
Vivemos na era do sexo precoce, independência dos pais precoce, menstruação precoce, alcoolismo e outras dependências químicas precoce.
Para uma pessoa melhorar, ela precisa parar e pensar. Procurar amadurecer. Aprender a refletir e, sendo honesto(a) consigo mesmo(a), tentar discernir os motivos que levam a envolver as pessoas nos problemas ou desejos pessoais. É possível continuar a ser uma pessoa expansiva, comunicativa, sociável, sem invasão, sem manipulação, sem estupidez.
Sejamos educados e observadores, onde quer que estejamos. Saibamos ter discernimento. Saibamos ser convenientes quando estamos sendo inconvenientes. Tenhamos senso coletivo. Vamos praticar um pouco de etiqueta. Por que não? Não ser espaçoso, não ser indelicado, não ser invasivo, se limitar respeitando a si mesmo e ao outro, não tentar derrubar o outro, ter bom senso, não ultrapassar os limites da intimidade do outro.
Não se trata de egoísmo. Estamos falando também sobre ter limites para certas posturas que nos são desconfortáveis – e isso pode vir tanto de colegas de trabalho, amigas (os), vizinhos e até mesmo parentes. E a intimidade, que está incluída neste espaço limitado, “é essencial para o equilíbrio psicológico de qualquer ser humano”.
Como sempre, o equilíbrio é o melhor caminho. E é preciso coragem para praticar estas coisas. Mas praticando, poderá se tornar uma pessoa mais confiável, mais serena, mais ponderada, menos “cheguei”, mais fácil de conviver, mais aceita, e não é bom isto?
A decisão para mudar o que se é, é pessoal. Ninguém muda ninguém. O médico, psicólogo, conselheiro, não muda o paciente. Não temos poder para isto. Na próxima vez que surgir na mente da pessoa “espaçosa” uma brecha no jeito de funcionar no automático, e ela conseguir refletir sobre como está funcionando com as pessoas, deverá aceitar a luz que virá dizendo o que precisa mudar. E mudar. Assim a saúde mental melhorará, independentemente se as pessoas ao redor fizerem isto também ou não.
Dr. Cesar Vasconcellos de Souza, médico psiquiatra e psicoterapeuta, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, membro da American Psychosomatic Society, consultor psiquiatra da revista Vida & Saúde onde mantém coluna mensal, professor de Saúde Mental